terça-feira, 17 de outubro de 2006



deus tinha um hálito forte
o peito peludo
as mãos enrugadas
e sujeira debaixo das unhas

deus era pai
invadindo-lhe o quarto
naquelas madrugadas sem data
que a memória não soube apagar

deus gozava no seu rosto
apertava suas coxas
sussurrava ao seu ouvido
chamando-lhe de filha


(deus não existiu -
era uma farsa vestida de nunca mais
era um refúgio repleto de nojo
- um mundo desnudado de amor)

suas preces não foram atendidas
e seus gritos ocos, de tão mudos que eram
pelos olhos medrosos da mãe
sequer foram notados

4 comentários:

Anônimo disse...

As lágrimas correram-lhe na face silenciosa e somente a noite como testemunha observava.

Claudio Eugenio Luz disse...

Meu caro, meu caro!!!! Mais uma vez me surpreendo com a força temática que engendra em suas poesias. Confesso, esse poema é demasiado contundente; comecei lendo, inocentemente, esperando outros rumos, porém, no meio no caminho fui surpreendido pela situação - deus era pai!!!
O poema é denso e desce rasgando.O final, meu caro, você não deixou nenhuma pontinha de esperança,muito pelo contrário, amarrou o enredo de tal forma como poucos conseguiriam realizar. Uma leitura para pessoas que não são cegas,surdas e, principalmente, mudas.Excelente!

hábraços

Leila Andrade disse...

tal qual o grito forte que deixas
em cada verso.
em tantos lugares.
não conhecia ainda aqui.
prazer.
bj

Anônimo disse...

O teu grito por todas as meninas que deus era pai e olhos medrosos de mãe quese faz cega.
Fantástico! Excelente, Douglas, poeta.
Beijo