quinta-feira, 26 de outubro de 2006


sob o jugo do outono
rogarei por vós até o fim,
deus triste
sem que precise do teu perdão
(minhas mãos nasceram sujas de sol)

terça-feira, 17 de outubro de 2006



deus tinha um hálito forte
o peito peludo
as mãos enrugadas
e sujeira debaixo das unhas

deus era pai
invadindo-lhe o quarto
naquelas madrugadas sem data
que a memória não soube apagar

deus gozava no seu rosto
apertava suas coxas
sussurrava ao seu ouvido
chamando-lhe de filha


(deus não existiu -
era uma farsa vestida de nunca mais
era um refúgio repleto de nojo
- um mundo desnudado de amor)

suas preces não foram atendidas
e seus gritos ocos, de tão mudos que eram
pelos olhos medrosos da mãe
sequer foram notados

sábado, 7 de outubro de 2006


rogo por ti
e só por ti
(abandono o peso de deus)
aos espíritos que clamam perdão
engolidos pela quietude
da fundura do rio

domingo, 1 de outubro de 2006


este resto de prece
que agora deixo aos teus pés
agarra-o com fervor
é teu único caminho
tu, a quem a solidão mete medo
tu, que preferes crer
ao final não estares só
terrivelmente só