quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

ao claudio eugenio luz

sobrevivia às noites estreladas bem distante das ruas do seu vilarejo desde que ali chegou a luz vinda da cidade grande. seguia um ritual simples em seus gestos levando às mãos ao peito para sentir a angústia do coração enquanto fixava os olhos no horizonte para agarrar-se aos restos de fé e inventava dentro da cabeça crianças brincando junto aos pirilampos. era assim que rumava ao igarapé embrenhado lá no meio da mata para ouvir o coaxar encantado dos sapos fazer das preces que aprendera com a mãe um cadinho, na esperança de que deus se desocupasse dos homens e pudesse atender ao seu único pedido levando pra todo sempre aquelas luzes dali.

imagem de escher


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007



escuta as lamúrias que vêm desse rio
trazendo sombras das preces de outrem
elas falam numa língua antiga
que abortou as pegadas da primeira aurora

observa caírem as tuas súplicas
feito lágrimas nuas à margem do escapulário
elas imploram por um instante de paz
que não seja um suspiro amortalhado