sexta-feira, 26 de maio de 2006


a lua sabe do silêncio
o silêncio sabe de ti
da tua alma
dos teus segredos
dos teus medos
das tuas ilusões
e das brincadeiras que um dia teus filhos
brincarão
mas tu ainda esperas
por esse deus que só traz abandono e miséria
por esse deus que descansa enquanto sofres
por esse deus que não registra os mortos
nem os vivos
porque escreve por linhas tortas
e ignora a dor
dos filhos teus
que dele os são
também.

segunda-feira, 22 de maio de 2006


PRECE DA PRIMEIRA AURORA

naquele quarto, esquecia o medo
era criança demais pra ser notado
achava que deus tinha ouvidos cheios de cera
e enormes olhos de vidro

rabiscava palavras que antecediam murmúrios
seus dedos acolhiam pequenos lamentos
frágeis círculos na arte de sonhar mundos
e cores que ninguém sabia

tinha brinquedos dos quais jamais se separava
forte-apache, autorama, fura-fura
todas as árvores do fundo do quintal
e os bichos imaginários feitos de nuvens

naqueles dias a infância chegava cedo
antes mesmo das sombras que o sol trazia
não havia desamor nem desespero
e não se morria dia após dia